30 de março de 2005

JUST DO IT

Este é o país da lamúria. Ó pai, dá-me lá mais dinheiro para fazer muitas peças de 3 dias de apresentação, com textos que só me interessam a mim. Ó tia da cultura, veja lá se arranja um subsídiozinho para eu fazer a curta-metragem que me anda cá dentro... Ó senhor ministro, no dia em que me derem um apoio vou começar a investigar para o meu romance...
As últimas gerações lamentaram-se de não fazerem o que queriam porque ninguém as compreendia ou apoiava. Vamos nós ficar quietos à espera de "serem reunidas condições dignas" para mexermos o cu?
Peço desculpa, mas por mim, vou fazer o que achar que consigo fazer. Será à pobrezinho? Pois vai sendo. Mas não me hão-de levar para a cova, a resmungar que me não deixaram viver ou fazer.
Pergunto a Portugal - ao nosso Portugal atrasado, invejoso e, sobretudo, preguiçoso - não terá chegado o tempo de utilizar a frase do Kennedy e perguntarmos a nós próprios "O que posso fazer pelo meu país?" (e pela minha realização pessoal, já agora) em vez de choramingar o que ele "não faz por mim"?

27 de março de 2005

AINDA MAIS A SUL

A margem esquerda do Guadiana permanece bastante selvagem. E, sobretudo, esquecida. Quem não tem jipe, vai ter de sujar o carro e arriscar a pele no encontro com algum camião perdido (aconteceu-me!) que lhe buzinará a frustração de ter de percorrer terra batida onde se esperaria encontrar (mapa dixit), uma estrada alcatroada.
Posto isto, há o PULO DO LOBO, perto de Serpa, onde as águas se enfurecem no aperto das rochas. Os caminhantes arfam, chapada acima, e casais abraçam-se ("quem é que é o queriducho mais fofinho e corajoso que até traz a sua nina a sítios quase-perigosos, quem é?!").- Mas vale a pena. Os pássaros abundam, das cegonhas aos melros azuis, passando, aqui e além, por uma ave de rapina difícil de identificar. Por todo o lado o sinal vermelho e branco da Caça Turística. As terras a sul de Beja parecem servir apenas para jipes carregados de homens armados passarem os domingos e feriados. Cruzei-me com perdizes mansas que atravessavam a estrada. Calculo que não terão vida longa, a atentar no desgraçado contexto onde se lembraram de nidificar.
Parece-me que este Portugal profundo, cheio de vida animal e desertada pelos seus habitantes mereceria melhor sorte.
Digo eu, que não ganho a vida em S.Bento...
O MUSEU DA CACA depois dos museus que valem a pena.

Vila Viçosa é linda. Cheia de mármore e uma dimensão modesta nas casas que contrasta com a riqueza do material que as cobre e do tempo que já conta.
Esqueço-me sempre que esta terra é tão antiga.
Lá fui ao Paço Ducal, residência desde o século XIV dos duques de Bragança, impecavelmente mantido, pela fundação do mesmo nome (e suponho, da mesma gente...). Vai-se a trote pelos salões, guiados por gente, obviamente pro-monárquica "Esta sala é dominada pelo quadro com a imagem do Rei D. Carlos" - e era verdade, lá estava ele, pintado. MUITO mais magro do que se conhece das fotografias. E até bonacheirão, calculando-se que a coisa tenha sido retratada antes de se tomar de amores pelas cartucheiras, comezainas e mania de pintar navios, enquanto a mulher, D.Amélia, do alto do seu 1.86m, se entretinha como podia- "Todos já reconheceram, a figura da raínha que introduziu o chá na corte Inglesa..." - ninguém, ou quase, o tinha feito, mas isso não o deteve, benza-o Deus e o PPM... "Uma senhora linda" - Pausa aqui para confessar que ou o conceito de beleza varia muito, de pessoa para pessoa, ou Catarina de Bragança era uma beldade... digamos... do tipo Almodovar... - e por aí adiante). Brincadeiras ao largo, vale sempre a pena ver aquele maravilhoso edifício, com todo o seu recheio. E perceber que os "tesouros incalculáveis" que nos são mostrados só podem ser de nós todos. Pois foram os avós dos nossos avós que suaram e morreram para que alguns pudessem laurear a pevide entre os tapetes persas. Adiante.
Foram 5 euros bem dados.
No dia seguinte fui até ao castelo, ver o museu de arqueologia. Comprei, sem querer, bilhete para o museu da Caça (já sem cedilha, numa das placas). O museu de arq. tem um extraordinário espólio, fruto de recolha e doação de toda a região. Os achados são agrupados por zonas de "achamento" e vão dos primeiros povoamentos, até ao século XVI. Claro que a exploração está nas mãos da mesma fundação. Que mantém tudo limpo e bem catalogado.
Infelizmente, a visita é guiada por um velhote, tatebitate, obviamente alfabetizado, já que, enquanto OBRIGA as pessoas a seguirem-no (não deixando ler a informação jazente ao lado das peças) sempre vai largando: "Isto são pontas de seta. Achadas na herdade dos Pardais" ou coisa que o valha e por aí adiante. Quando protestei, fui remetido para "ordens dos patrões" que não podem deixar ninguém à solta. No final de 20 minutos de frustração, fomos postos na rua deste sítio e enfiados numa sala atroz cheia de pássaros mortos e caçadeiras com torneados de prata. Pedi que me dispensassem e fui protestar à entrada dos museus. Aí, foram amáveis e outra pessoa foi de novo comigo VER TUDO. Daí que vá avisando: vão a Vila Viçosa, vejam o museu de arqueologia, mas DIGAM QUE SÓ QUEREM VER AQUELE. Com sorte, alguém vos deixará ler as informações laterais e apreciar o espantoso número de artefactos.
ps: se não resultar, peçam o livro de reclamações. É magia que acontece.
BACK... ENFIM... NA MEDIDA DO POSSÍVEL...

Vou por aí, e tenho vontade de ir publicando fotos dos sítios que encontro, partilhando ideias sobre os lugares e as pessoas. Infelizmente, a portabilidade dos blogues ainda não é (pelo menos nesta versão caseirinha) assim tanta :) E por outro lado, ainda bem. Mais vale deixar que o tempo entre o que me parece e o regresso à base se mantenha. Sempre são umas asneiras que se poupam (lol=.

23 de março de 2005

UMA ESPÉCIE DE FÉRIAS

Por me encontrar em movimento, leia-se: "a trabalhar, mas frequentemente longe de computadores", não posso actualizar o blogue como gostaria.
Espero que seja por uma "boa (escrita) causa" ;)

13 de março de 2005

FARMÁCIAS

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Sócrates não tem coração: estragar assim o fim-de-semana aos farmacêuticos portugueses...
À hora em que escrevo decorrerão por certo reuniões em vários pontos do país. Homens preocupados com o facto de não poderem ganhar rios de dinheiro com a especulação dos trespasses das farmácias suarão. Pessoas tranquilas adormecidas à sombra do "venderemos os medicamentos ao preço que nos apetecer", necessitarão de Alkasetzer (ou de um genérico para o mesmo efeito).
Não há direito de não se deixar enrolar na treta do "perigo para a saúde pública": pois se funcionou desde o salazarismo...! Entram por aí adentro, argumentando que ninguém pede receita de coisa nenhuma nas farmácias desde que haja dinheiro para pagar. Não interessa, SE o farmacêutico quiser PODE negar o medicamento.
Agora, lá vão ter de abrir os cordões à bolsa para pagar a jornalistas que investiguem a vida privada do 1º ministro e do ministro da saúde e que espetem na primeir página tudo o que de comprometedor encontrarem. E se não encontrarem, então que insinuem. Tudo para descredibilizar quem lhes vem roubar os chorudos lucros.
Raios, Portugal está cada vez menos lucro-paradisíaco...!

12 de março de 2005

GOOD OLD HARRY

Está de volta, em Julho (na versão original), para nos livrar da pouca vergonha Daquele Que Não Se Pode Dizer O Nome (não, infelizmente, não é o Santana Lopes...).
A capa, versão adultos é esta:

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O filme sobre o 4º livro, O CÁLICE DE FOGO, também está a chegar. A Rita Skeeter tem este aspecto:

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Mais informações nos orgãos melhor informados sobre o assunto, o veritaserum, e o potterish.

11 de março de 2005

A COISA ÚTIL

Ouço os políticos politicamente correctos a dizerem correctamente que isto da escola tem de mudar. A universidade deve formar operários. No sentido da utilidade IMEDIATA dos conteúdos. Ora, eu já partilhei dessa ideia, não há muito. Mas, quando olho à volta e vejo todas as pessoas cujo trabalho admiro e que se formaram Coisas Muito Sérias E Porque Não Bem Pagas... e que trocaram tudo isso por uma nova profissão, começo a discordar. O problema é que raramente se sabe não só que se quer fazer, como se aquilo que gostaríamos é para nós. Como uma roupa porreira... mas que nos fica mal. A nós.
Acredito que a escola deve ensinar o que interessa aprender. Não deve servir os saberzinhos dos doutores, demasiado preguiçosos para se debruçarem sobre os conteúdos que ministram e os adequarem aos alunos. Não deve ser um "Façam como eu digo, mas não façam como eu faço". Deve sim, dotar os alunos de instrumentos básicos para que constituam os seus próprios saberes. Ensinar-lhes o valor da coragem e a nobreza do erro.
E, crime de lesa-magestade em Portugal, desenvolver-lhes o sentido crítico. Ensinar-lhes que o que "eu estou a dizer neste momento, pode ser verdade, ou apenas a maneira como eu, e outros como eu, pensam, agora".

8 de março de 2005

LANÇAMENTO

5ª feira, na livraria LER DEVAGAR, em Lisboa, às 19 h.

2 novos projectos do site ATMOSFERAS (www.atmosferas.net).

O primeiro da autoria da escritora Filipa Melo, que cruza hipertextualmente as obras de Marco Polo, Italo Calvino e textos inéditos. Palavras-chave dos autores conduzem-nos aos trabalhos plásticos dos ilustradores: Pedro Proença, Joana Toste e João Fazenda. E à fotografia de João Francisco Vilhena. Design, som e interface de Diogo Valério.

Este vosso criado, em dupla missão, apresenta o projecto BURACOS DE DEUS, realizado em conjunto com Carlota Gonçalves. Depois de uma viagem alucinante (trust me...) aos principais textos sagrados da Humanidade, seleccionaram-se excertos que conduzem ao interior de 6 personagens. Algumas delas contraditórias... mesmo face ao seu deus pessoal.
As curtas metragens são protogonizadas pelos actores - entre outros - Ângelo Torres, Maria d'Aires e Carlos Gomes. Interface e programação de Alexandre Bernardo.

Estes trabalhos estarão on-line, na zona FICÇÕES do referido site, a partir do dia 10 (salvo bug em contrário), mas se quiserem vir tomar um copo e provar o queijito, estejam à vontade ;)
LÉVI LÉVI

Estou a precisar de S.Tomé. De um qualquer S.Tomé. De me sentir "leve, leve" e relativizar as coisinhas pequenas que nos chateiam os dias.
De pé, sobre uma canoa e o mar por baixo, sabe-se bem distinguir o essencial do acessório.

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6 de março de 2005

FANTAS-TICO

A organização do Fantasporto veio hoje mostrar-se contente com (dizem) a venda de 40 mil bilhetes para as suas sessões. O que terá sido, nas palavras do seu presidente, "um grande aumento nas vendas".
Tem razão. Foi um aumento. Claro que se alguém se der ao trabalho de ir ao google e ler a imprensa do mês passado em que ele se propunha fazer "meio milhão de espectadores" (mais do que Cannes ou Berlim) poderá ficar decepcionado... Ou lembrar-se dos 120 000 espectadores que, salvo erro, foram declarados no ano passado...
Voltando ao planeta Terra, o resultado real anunciado parece-me bom. E o Porto merece um bom festival. O que me parece ser, por enquanto, o caso.

ps: Já agora, no campo das curtas, atribuir a vitória ao "Abraço do Vento" do excelente animador José Miguel Ribeiro parece-me razoável, já que, no meu entender, se trata talvez da sua obra menos interessante, embora simpática. Aliás, o filme já tinha sido apresentado e premiado no CINANIMA, deste ano.
Agora... "Pastoral", o outro prémio das curtas, é uma obra mais do que falhada: é secante, insípida e pretensiosa ao vómito. Mas enfim, cada festival tem os seus critérios e os seus júris.
ZAPPING

Num dos canais, a ridícula reconstituição do julgamento de M. Jackson. O actor que faz de Acusação afirmava que o Homem Sem Nariz teria simulado o coito em cima de um manequim (de plástico, imagino...) diante dos seus alegres e muito jovens amiguitos. A ser verdade, julgo que tudo não passaria de uma demonstração de como se sentiam as ex-mulheres - que se abotoaram com o dinheiro dele - quando ele as convidava para uma noite de loucura... Enfim... Sem comentários.
LORD OF THE FLIES

O meu gato anda contente. Está a aproximar-se a Primavera, altura em que as moscas e outros insectos insistem em se virem suicidar cá a casa. Anda a afiar as garras e a treinar os saltos contra as janelas.
Sou dono de um sádico com pêlo...

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TEMPO
Parabéns à atleta portuguesa que ganhou a medalha de ouro nos campeonatos da europa. Claro que ela não conhece o Tempo que rege os meus dias: as horas correm a tal velocidade que nem as vejo!
:) O blogue, coitadinho é que se ressente

3 de março de 2005

O PRIOR
Anda tudo escandalizado com o padre que pagou um anúncio para anunciar as suas decisões eucarísticas. A mim parece-me que o homem está no seu direito. Canónico, no caso. E limita-se a dizer alto, o que outros murmuram no silêncio das sacristias.
As igrejas abominam o sexo porque lhes está vedado. É o mesmo que dizer que uma top model tem celulite e que só um maluco é que dormiria com ela. O sexo não-reprodutivo é a top model dos padres: mais vale desdenhar do que olhar para baixo sem saber o que fazer à erecção.

1 de março de 2005

ANIVERSÁRIO

Faz por estes dias 2 anos que este blogue foi criado. Um dia destes termina como começou: sem caganças nem choradinhos :) Até lá, gostaria que se continuasse a discutir de tudo. Com a simplicidade caeironiana do primeiro dia. Em Portugal nada se discute a sério. Grita-se muito, toma-se como ofensa pessoal o que não passa de uma discordância de idéias, busca-se o defeito do pormenor em vez de se apreciar a grandeza do todo. Desconfia-se de tudo, sem que as causas da desconfiança sejam debatidas para se manterem ou desaparecerem sem rancor.
O país que eu imagino é mais simples. Mais directo. Não tem medo de errar, nem de pedir desculpa e aprender com o erro. Pergunta o que não percebe. Questiona o que discorda.
O meu país não existe, claro: ainda não existe. Mas nem por isso tenho intenções de o desertar.
Um abraço e obrigado pelos milhares de comentários feitos nestes 2 anos.